alegria
A mala estava por fazer. Daqui a algumas horas ele iria mais uma vez viajar. Seria mais voltar do que ir. Nada de novo o esperava. Seria o repetido regresso. Entre as camisas e as calças que voavam para dentro da mala, já não iam saudades ou expectativas. Ele sabia o que o aguardava assim como sabia o que deixava. A magia da esperança há muito que se havia esfumado entre um aeroporto e outro e as horas maçadoras no interior claustrofóbico de um avião. O desafio era manter vivo o que sobrava. A morte nem sempre chegava de rompante, ela ia levando partes até à hora de recolher o remanescente. Era o processo natural!, meditava ele sentado na borda da cama. De repente pensou alto: "estou a distrair-me!"; "as coisas que eu vou buscar para evitar fazer aquilo que realmente importa: fechar a mala, chegar ao aeroporto a tempo, tentar dormir durante o voo e, no destino, resolver os assuntos pendentes – traçar o futuro imediato". Já não havia lugar para as ideias da plenitude